segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Pobre meu Pai

A partir deste post inauguramos uma série sobre as composições de Sérgio Sampaio. Diversos comentadores da obra de Sampaio dizem que suas músicas estavam a frente de seu tempo e que este seria um dos motivos pelo qual não foram compreendidas pelo grande público em sua época.

Essa tese também sustenta que esse é um dos motivos da redescoberta de sua obra nos dias de hoje. Pode ser verdade, mas também é verdade que ainda hoje Sérgio está a frente de nosso tempo.

A criatividade e riqueza poética de suas composições demonstram um raro talento no universo cada vez mais pobre e medíocre da música brasileira, principalmente nas duas últimas duas décadas, onde não encontramos ninguém que mereça maiores considerações além da média. Como eu disse, Sérgio está sendo redescoberto recentemente e todos que fazem esta descoberta se deparam com algo novo, atual e futuro, ou seja, contemporâneo e ao mesmo tempo avançado no que diz respeito a sua poética. Poética política, sem ser panfletária, profundamente sentimental sem ser piegas.

Sua obra se confunde com sua vida libertária. Sérgio não se enquadrou no sistema, seja porque o sistema não o aceitou como era, seja porque ele não aceitou ser o que não era. Foi, sinceramente, como o título de seu último LP gravado em vida, alguém que viveu a vida a partir de sua liberdade, mesmo que pagando um alto preço por isso. Esse é Sérgio Sampaio, é deste singular talento que faremos uma homenagem à sua obra apresentando suas mais belas e instigantes canções com análise do conteúdo das mesmas.

É uma análise particular, ou seja, um ponto de vista visto de um ponto e portanto, não tem a pretensão de verdade, mas de quem descobriu algo que tem um grande significado e não pode ser esquecido. Começaremos pelo primeira LP de SÉrgio: "Eu quero botar o meu bloco na rua", lançado na esteira do grande sucesso da música que leva o título do disco, apresentada no Festival Internacional da Canção de 1972. Este festival entrou para história por ser o último antes do fechamento total do pais na época mais dura da ditadura. Foi também o festival que lançou os grandes gênios malditos da música brasileira como Raul Seixas, Belchior, Fagner, Sergio Sampaio entre outros.

Este primeiro LP de Sérgio estourou e vendou mais de 500 mil cópias, um record para a época. Com 12 faixas traz obras primas como "Pobre meu pai"; "Eu sou aquele que disse"; "Viajei de trem" , EU quero botar o meu bloco na rua". Pobre meu pai Neste primeiro LP Sérgio homenageia seu pai, cantando uma composição dele "Cala a boca zebedeu" na faixa 3 e em seguida "Pobre meu pai". Dificilmente alguém não se emociona com esta canção.

Pobre meu pai
 Quatro punhos espalhados no ar
Oito olhos vigiando o quintal
E o meu coração de vidro
Se quebrou
 Doido meu pai
Sete bocas mastigando o jantar
Sete loucos entre o bem e o mal
 E o meu coração de vidro
 Não parou de andar
Pobre meu pai
A marca no meu rosto
É do seu beijo fatal
O que eu levo no bolso
Você não sabe mais
 eu posso dormir tranqüilo
Amanhã, quem sabe?
Hoje, meu pai
Não é uma questão de ordem ou de moral
Eu sei que posso até brincar
O meu carnaval
Mas meu coração é outro
Simples, meu pai
Faça um samba enquanto o bicho não vem
Saia um pouco, ligue o rádio, meu bem
Não ligue, que a morte é certa
Não chore, que a morte é certa
Não brigue, que a morte é certa



 "Pobre meu Pai" representa a relação de  Sérgio com seu pai e pode ser lido por qualquer um como uma crônica das  relações entre pai e filho. Sérgio afirma sua individualidade, sua vida; as diferenças com seu pai não são de ordem ou de moral, é o seu coração que é outro...

Não é uma questão de ordem ou de moral
Eu sei que posso até brincar
O meu carnaval
Mas meu coração é outro

E ao final o inexorável, a morte, o fim, o que coloca para o artista a certeza do que é importante e o que é desimportante na vida.  "Não ligue, não chore, não brigue", pois nada é certo, apenas " a morte é certa"

Na entrevista abaixo Sérgio fala um pouco sobre suas composições, discorrendo sobre o seu processo de criação de suas composições, seja com seu pai ou com seus amigos.



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