"Roda Morta" , fala sobre a "reflexão" daqueles que sempre querem mais e mais...
"Roda Morta" ou "reflexões de um executivo" é uma daquelas composições únicas e geniais de Sérgio Sampaio. Dificilmente encontraremos uma composição poética-musical que retrate tão bem o que seria uma "reflexão" , ou uma "consciência pesada" de um capitalista pensando no "sentido" de sua vida "com os dentes cariados da alegria".
Poderia ser um daqueles milionários que representam hoje os 1% que acumulam a riqueza produzida pelos 50% mais pobres de qualquer país capitalista, ou qualquer patrão "emergente" que começa a frequentar os "Salões coloniais" com "colônias de abutres colunáveis" .
Impossível não identificar na música a classe dominante, ou os "gaviões bem sociáveis vomitando entre cristais".
A reflexão sobre a circunstância que dá sentido à sua existencia:
"Eu vejo um mofo verde no meu fraque. E as moscas mortas no conhaque que eu herdei dos ancestrais"
E por fim a reflexão inevitável de quem não vê outro sentido para sua vida:
" O triste de tudo isso é que eu sei disso, eu vivo disso e além disso, Eu quero sempre mais e mais ..."
Roda Morta (reflexões de um executivo)
O triste nisso tudo é tudo isso
Quer dizer, tirando nada, só me resta o compromisso
Com os dentes cariados da alegria
Com o desgosto e a agonia da manada dos normais.
O triste em tudo isso é isso tudo
A sordidez do conteúdo desses dias maquinais
E as máquinas cavando um poço fundo entre os braçais,
eu mesmo e o mundo dos salões coloniais.
Colônias de abutres colunáveis
Gaviões bem sociáveis vomitando entre os cristais
E as cristas desses galos de brinquedo
Cuja covardia e medo dão ao sol um tom lilás.
Eu vejo um mofo verde no meu fraque
E as moscas mortas no conhaque que eu herdei dos ancestrais
E as hordas de demônios quando eu durmo
Infestando o horror noturno dos meu sonhos infernais.
Eu sei que quando acordo eu visto a cara falsa e infame
como a tara do mais vil dentre os mortais
E morro quando adentro o gabinete
Onde o sócio o e o alcaguete não me deixam nunca em paz
O triste em tudo isso é que eu sei disso
Eu vivo disso e além disso
Eu quero sempre mais e mais.
(2x)
mais e mais
"Roda Morta" está no disco póstumo Cruel, produzido por Zeca Baleiro que também gravou esta música.
Abaixo a gravação de Sérgio e de Zeca Baleiro
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