segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A sordidez do conteúdo desses dias maquinais...


"Roda Morta" , fala sobre  a "reflexão" daqueles que sempre querem mais e mais...

"Roda Morta" ou "reflexões de um executivo" é uma daquelas composições únicas e geniais de Sérgio Sampaio. Dificilmente encontraremos uma composição poética-musical que retrate tão bem o que seria uma "reflexão" , ou uma "consciência pesada" de um capitalista pensando no "sentido" de sua vida "com os dentes cariados da alegria".
Poderia ser  um daqueles milionários que representam hoje os 1% que acumulam a riqueza produzida pelos 50% mais pobres de qualquer país capitalista, ou qualquer patrão "emergente" que começa a frequentar os "Salões coloniais" com "colônias de abutres colunáveis" .
Impossível não identificar na música a classe dominante, ou os "gaviões bem sociáveis vomitando entre cristais".

A reflexão sobre a circunstância que dá sentido à sua existencia:
"Eu vejo um mofo verde no meu fraque. E as moscas mortas no conhaque que eu herdei dos ancestrais"

E por fim a reflexão inevitável de quem não vê outro sentido para sua vida:

" O triste de tudo isso é que eu sei disso, eu vivo disso e além disso, Eu quero sempre  mais e mais ..."

Roda Morta (reflexões de um executivo) 

O triste nisso tudo é tudo isso
Quer dizer, tirando nada, só me resta o compromisso
Com os dentes cariados da alegria
Com o desgosto e a agonia da manada dos normais.

O triste em tudo isso é isso tudo
A sordidez do conteúdo desses dias maquinais
E as máquinas cavando um poço fundo entre os braçais,
eu mesmo e o mundo dos salões coloniais.

Colônias de abutres colunáveis
Gaviões bem sociáveis vomitando entre os cristais
E as cristas desses galos de brinquedo
Cuja covardia e medo dão ao sol um tom lilás.

Eu vejo um mofo verde no meu fraque
E as moscas mortas no conhaque que eu herdei dos ancestrais
E as hordas de demônios quando eu durmo
Infestando o horror noturno dos meu sonhos infernais.

Eu sei que quando acordo eu visto a cara falsa e infame
como a tara do mais vil dentre os mortais
E morro quando adentro o gabinete
Onde o sócio o e o alcaguete não me deixam nunca em paz

O triste em tudo isso é que eu sei disso
Eu vivo disso e além disso
Eu quero sempre mais e mais.
(2x)
mais e mais



"Roda Morta" está no disco póstumo Cruel, produzido por Zeca Baleiro que também gravou esta música.  

Abaixo a gravação de Sérgio e de Zeca Baleiro



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