sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Lançada nova edição da Biografia de Torquato Neto



Neste mês de novembro que  foi lembrado os 40 anos do suicídio de Torquato Neto, o "anjo torto" da Tropicália, o jornalista Kenard Kruel lançou a 3 Edição da mais completa biografia de Torquato.

Os bons morrem cedo...

Com apenas 28 anos de idade, o poeta/compositor/agitador cultural/jornalista e um dos mentores do tropicalismo, junto com Caetano e Gil, teve, como muitos gênios uma vida breve, mas que ficou  marcada até hoje pelo que criou e inspirou.

Em outubro passado publicamos um post em nosso blog em homenagem à Torquato : http://viajeidetrem.blogspot.com.br/2012/10/existirmos-que-sera-que-se-destina.html, contando um pouco deste "maldito" e sempre atual poeta brasileiro.

Torquato se destacou pela irreverência e rebeldia. “A vida breve, mas fecunda, de Torquato Neto é uma síntese da grandeza, mas também dos abismos que definem a cultura alternativa e rebelde dos anos 60 e 70”, diz o escritor José Castello. A sua rebeldia figurava também em sua aparência. Seus cabelos compridos e roupas ao estilo hippie o configurava como um homem que recusava o mundo que vivia. “Ele tinha a vontade de destruir o mundo para, nesse mesmo gesto, fazer o parto de um novo”, acrescenta José Castello


Uma semana antes do AI-5 (o famigerado Ato Institucional nº 5, que tirou dos brasileiros todos os seus direitos constitucionais), Torquato foi contemplado com uma bolsa de estudos para escrever sobre as influências africanas na MPB. Assim, viaja para os EUA e Europa no final de 1968. Em Londres ele encontra com os baianos Caetano e Gil, em exílio político, depois da prisão no Brasil.  Entre outras coisas, conta que um dia foi visitar Jimi Hendrix em seu ap e o encontrou ouvindo “aquele álbum branco dos Beatles”. No final de 1969, volta ao Brasil rompido com os baianos.
 Sua morte foi uma retirada inesperada. Na madrugada de 10 de novembro de 1972, 1 dia após completar 28 anos, ele e sua mulher, Ana Maria dos Santos e Silva, voltaram de uma festa. Ela foi dormir. Ele trancou-se no banheiro, ligou o gás e suicidou-se. Deixou o seguinte bilhete : “Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Pra mim, chega ! Não sacudam demais o Thiago (seu filho de 3 anos), que ele pode acordar”.

Quem conhece bastante Torquato Neto é seu primo e admirador , George Mendes, tinha apenas 14 anos quando Torquato se suicidou. Em entrevista publicada no blog do jornalista Kenard, George falou um pouco sobre seu primo Torquato:

 Bom, eu costumo dizer que o Torquato é um artista multimídia. Provavelmente, um dos maiores artistas multimídia do Brasil e o primeiro do Piauí. Torquato trabalhou em música, no cinema, literatura e exerceu o jornalismo cultural durante muito tempo. Ele é uma artista de várias linguagens, que são sintetizadas na poesia. A sua essência era a poesia. E como poeta foi compositor, ele compôs letras de música, ele morreu sem deixar um livro publicado de poesia, propriamente dita, mas tem dois livros a serem publicados. Atuou como cineasta, ator, roteirista e artista plástico. Uma coisa que é instigante no Torquato é a gente lembrar que ele morreu tão jovem e construiu uma obra tão instigante, tão vasta e ao mesmo tempo tão quantitativamente pequena. Em dez anos, ele foi capaz de construir uma bora tão inovadora, de tal forma que ela conseguiu se eternizar no tempo. Para você ter uma ideia, as obras de Torquato foram construídas em uma trajetória que começa em Teresina, vai a Salvador, Rio de janeiro, São Paulo, Londres, Paris e Rio, onde ele terminou falecendo...

... Ele era um artista singular, ele não apenas dizia o que ele achava que devia ser feito, ele fazia. Então foi um homem que deu o seu testemunho da concepção artística, do seu fazer artístico, assinando a vida com a própria morte. Se existe uma coisa permanente na obra dele, era essa dualidade entre morte e vida. O Torquato dizia que a morte era o começo de tudo. Ele era filho de um espírita, o pai e de uma católica, a mãe. Ele não escolheu nenhum dos dois, juntou as duas coisas em tudo. Para ele, viver era morrer e morrer era viver, e ele fez isso de uma forma que espantou a todos. Se a gente for pensar nos padrões normais, como passa na televisão, Torquato era tão jovem, tão brilhante e morreu tão cedo e ao mesmo tempo podia ter tido uma carreira brilhante. Se pensarmos o que ele seria hoje, fico imaginando: será que a carreira dele o levaria para uma fama que ele nunca quis, o estrelato que ele nunca quis? Se continuando a vida, ele passaria a cantar? Eu digo que não, porque ele era desafinado. Ele não tocava um instrumento, mas tinha um ouvido extremamente musical. O Gil diz em uma entrevista que fazer música com Torquato era muito fácil, pois ele trazia a música muito pronta, a maneira que ele escrevia já construía a música. Ele sabia a palavra escrita, falada, e sabia o tempo das coisas. É um cara que se tornou importante para a cultura brasileira....


 ....O Torquato se tornou importante para a cultura brasileira, por conta dele, da vida dele, sem medir consequências convencionais. Com isso ele conseguiu se tornar um ícone da contracultura, da tropicália, com disposição de sempre contrariar as coisas. Então, ele nunca foi bonzinho. Ele tinha um jeito meigo e quieto, mas o Torquato era um vulcão criativo, ele nunca quis cultivar o estabelecido, nunca quis louvar aquilo que está na vida de todo mundo. Se você pegar os primeiros poemas de Torquato, você se espanta com a facilidade que ele tinha com as palavras, ele escrevia sobre tudo, escrevia compulsivamente e com uma qualidade impressionante sobre o que vinha na cabeça...

A entrevista completa com o primo de Torquato está no blog: http://krudu.blogspot.com.br/2012/11/torquato-neto-o-maior-multimidia-do.html


Os artigos de sua coluna na Última Hora (Rio de Janeiro, entre 1971 e 1972), ”Geléia Geral”, e poesias inéditas, foram reunidos no livro “Os Últimos Dias de Paupéria”, organizado por Waly Salomão e Ana Maria.

Para quem não conhece a história de vida e a rica obra poética e músical de Torquato, tem a oportunidade de conhecê-la nesta belo livro biografia do jornalista piauiense(conterrâneo de Torquato) Kenard Kruel(que vem pesquisando a vida e a obra  de Torquato a mais de 30 anos) que lançou a 3 edição, revista e ampliada da  biografia do poeta: O livro "Torquato Neto ou a Carne Seca é Servida", uma obra de fôlego, com  mais de 600 páginas imperdíveis para quem já conhece ou quer conhecer Torquato Neto.




O Título é inspirado no poema "Todo dia é dia D" de Torquato


Desde que saí de casa
trouxe a viagem da volta
gravada na minha mão
enterrada no umbigo
dentro e fora assim comigo
minha própria condução
há urubus no telhado
e a carne seca é servida
escorpião encravado
na sua própria ferida
não escapa, só escapo
pela porta da saída
todo dia é o mesmo dia
de amar-te, amor-te, morrer
todo dia é dia dela
pode ser, pode não ser
Todo dia menos dia
Todo dia é dia D


No Blog de Kenard,  www.krudu.blogspot.com (onde se pode encomendar o livro), encontramos um texto  de Everi Carrara apresentando a nova edição da biografia de Torquato:

O escritor piauiense KENARD KRUEL escreveu o livro TORQUATO NETO OU A CARNE SECA É SERVIDA. Um tijolaço de 622 páginas, abrangendo a vida e obra de Torquato Neto, poeta emblemático da Tropicália, que este ano faz 45 anos de história. O livro é imprescindível para os novatos e as gerações mais antigas que pretendem ler e saber um pouco mais sobre Torquato, o poeta suicidado a 10 de novembro de 1972 por essa sociedade ocidental, capitalista e hostil. É um trabalho de fôlego, pois imagino KENARD KRUEL se debruçando sobre fontes de pesquisas, pessoas, filmes e problemas. O legado de Torquato Neto pode ser também conferido pelas interpretações em discos de CAETANO VELOSO, GILBERTO GIL, ELIS REGINA, EDU LOBO, GAL COSTA, LENA RIOS, GIL, TITÃS, ADRIANA CALACANHOTO e especialmente em NARA LEÃO (minha cantora preferida, que gravou "vento de maio" / "mamãe, coragem" / "deus vos salve essa casa santa"). KENARD KRUEL fez um verdadeiro levantamento sobre a cultura brasileira durante os anos de chumbo, pois Torquato era uma espécie de outsider, um poeta-cidadão em permamente risco contra a idelogia esquerdizante e os milicos. Lembra-me de certa forma pertencer a melhor linhagem espiritual de RIMBAUD, ARTAUD, NELSON RODRIGUES, OS BEATNICKS E ROBERTO PIVA. Ou seja, viveu intensamente os extremos, a vidência, não se enquadrava em modismos, em blá-blá-blá acadêmico para auferir altos salários em universidades e boquinhas governamentais.
Vivia na corda bamba. Era um poeta além, subvertia de fato, o coro dos contentes.
Assim como Nara, ele não fazia concessões ao bom gosto, não se curvava perante o bom mocismo. Caetano relata que "torquato era doce", o que me fez pensar mais na proximidade artística do poeta Torquato com Nara. Ambos meigos, corajosos, sutis, dinâmicos, revolucionários na forma e no conteúdo. Ambos suicidados pelo pensamento hegemônico do consumismo boçal.
Everi Rudinei Carrara: editor do site telescopio, músico profissional, escritor, agente cultural, membro da Abrace / uruguai-brasil, membro efetivo da academia Sala dos Escritores, professor de tai chi chuan.


Como não poderíamos deixar que mencionar a música que Sérgio Sampaio fez a partir de sua amizade com Torquato.

"Que Loucura" ( Sérgio Sampaio)






Cajuína, a bela canção que Caetano fez para Torquato Neto:

Existirmos: a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Todo Mundo está Feliz aqui na terra

 Gênios: Raúl ( o produtor) e Sérgio Sampaio nos tempos da "Grã Ordem Cavernistica"

Todo Mundo está feliz aqui na terra foi uma das obras primas criadas pela parceria de Raul Seixas e Sérgio Sampaio no LP  "Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10" gravado em 1971 nos estúdios da CBS no Rio de Janeiro pelo então produtor Raul Seixas. A "Grã Ordem" era formada pelo próprio Raul , Sérgio Sampaio, o cantor, dançarino e ator Edy Star (então conhecido apenas como Edy) e a cantora paulista Míriam Batucada.
Nesta canção como as outras do LP sobram ironia e crítica de grande conteúdo político, que na época nem todos conseguiram entender. Raúl e Sérgio sempre estiveram a frente de seu tempo.
Impossível não perceber a atualidade desta música que ironiza o "coro dos contentes" que acreditam mesmo que todo mundo está feliz...
 Raúl e Sérgio, sábios que nos fazem falta...

Todo Mundo está feliz aqui na terra ( Raúl Seixas e Sérgio Sampaio) 

Todo mundo está feliz aqui na terra
Todo mundo está feliz aqui na terra
Todo mundo está feliz aqui na terra
Todo mundo está feliz aqui na terra


Olho por cima das cortinas
por dentro das revistas
e vejo o meu sorriso no ar
estou na porta e na janela
na paz na calmaria
no disco voador do amigo


Todo mundo está feliz aqui na terra
Todo mundo está feliz aqui na terra
Todo mundo está feliz aqui na terra
Todo mundo está feliz aqui na terra


Hoje podia ser domingo
segundo de janeiro
pra mim vai dar no mesmo lugar
vai dar na minha alegria
eu não quero mesmo nada
eu não tenho nada a ver
com isso


Todo mundo está feliz aqui na terra
Todo mundo está feliz aqui na terra
Todo mundo está feliz aqui na terra
Todo mundo está feliz aqui na terra


olho por dentro das vitrines
do alto do edifício e
descubro o dia novo no céu
hoje é um dia como outro
esqueci o calendário no bolso da camisa


Todo mundo está feliz aqui na terra
Todo mundo está feliz aqui na terra
Todo mundo está feliz aqui na terra

 


O video que postamos aqui, editado por Eduardo Mota foi muito preciso em retratar o significado irônico da música.

Viajando de Trem com Sérgio Sampaio e Eduardo Vieira da Cunha




Procurando na internet uma imagem que retrata-se,  a fantástica composição "Viajei de Trem" de Sérgio Sampaio, encontrei uma das obras do pintor, fotógrafo, desenhista e gravador, Eduardo Vieira da Cunha. A foto me remeteu a um site que estava  divulgando uma exposição da obra deste artista http://www.bolsadearte.com/oparalelo/category/locais/outros-estado
Também na página, minha maior surpresa foi encontrar  um pequeno texto do próprio Eduardo, com o título "À procura de uma sombra do viajante",  onde escreve sobre o significado do "deslocamento" e da "viajem".
A leitura me remeteu imediatamente a Sérgio Sampaio, criador dessa genial canção, no qual ele interpreta a sua viajem...

À procura de uma sombra do viajante- Eduardo Vieira da Cunha

“Odeio viagens e viajantes”. Com esta frase, um negativo da viagem, Claude Lévy-Strauss se vacinava logo ao abrir o grande poema que representa “Tristes Trópicos”. Um livro do deslocamento filosófico, da filosofia em negativo. O que talvez o etnólogo odiasse mesmo era o desafio de descobrir o noturno do trópico, em vencer seus desafios, penetrar no escuro da mata e passar necessidades, sede e fome. O ganho, entretanto, era a obra em se fazendo.
Viagem, ficção e filosofia. Percursos.  Já que outros filósofos pareciam incólumes a tais dissabores dos viajantes, como Platão e Pitágoras, e se entregavam com prazer às deambulações da viagem didática e de compartilhamento do conhecimento, um terceiro grupo onde incluo também homens de letras se aborrecia com as viagens e o trato com o estrangeiro. Isso porque talvez eles não precisassem procurar o desafio do desconhecido. Encontravam o fascínio da viagem ali mesmo, dentro da própria cidade: Sócrates, que preferia viajar pelas ruas e as praças de Atenas. E Machado de Assis e Mario Quintana, flâneurs do Rio de Janeiro e Porto Alegre, respectivamente.
…Escolho exemplos de outras áreas para falar da vasta questão do deslocamento e da  viagem. Se é muito difícil tratá-los em um texto, muito mais o seria em uma singela exposição. Em todo o caso, sonhos, fotos, papéis soltos, objetos, mapas, itinerários, planos, traduções, desenhos e pinturas ajudam a pelo menos recompor o itinerário de uma viagem produtiva, ociosa positiva e negativamente.
…A imagem desse homem que esperava, esperando talvez a oscilação improvável do corpo do navio enterrado na areia, começou a me perseguir em desenhos e pinturas, além das fotografias.  O emblema de Borges é a ampulheta, aquele rio de areia que pode ser tanto o esquecimento como o elogio ao desprendimento (da areia). Navegando na areia, o homem poderia ter como livro de cabeceira um livro de Borges com o poema Elogio das sombras: “(…) tantas coisas. Agora posso esquecê-las. Chego ao meu centro. À minha Álgebra, meu código. Ao meu espelho. Logo saberei quem sou.”
A fotografia é feita de reflexos, de espelhos e de sombras. Depois desse ocioso exílio do litoral desértico, passei a procurar em outras viagens, reflexos e sombras perdidos:  Busquei na animada, iluminada e extravagante Nova York do final dos  anos 80, e na Paris de matérias sombrias e opacas, cidade noturna dos flâneurs  surrealistas. Não achei nem no lado do otimismo tecnológico, nem no lado da inquietante estranheza. Por isso insisto tentando na pintura. E parafraseando Cortázar, adoto sua máxima: a obra talvez importe, mas não impede de andar.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Adiante Sampaio




Adiante ( Sérgio Sampaio)


Mais uma das obras primas do gênio Sampaio.
"Embora eu siga adiante
eu sempre fico onde eu passo
eu sempre deixo um pedaço de mim
embora eu siga adiante

e quando eu sigo adiante
eu levo comigo um bem
que é sempre o bem do meu migo
junto com o migo de alguém

e quando eu sigo adiante
eu sempre fico onde eu passo
eu sempre deixo um pedaço de mim
embora eu siga adiante...adiante...adiante."♫