(...) Eu tenho medo... e quem não tem? Na sociedade do "medo", isso é o que mais se tem, medo de bandido, medo de polícia... medo de dentista. Para falar de seus medos, que são medos de muita gente, Sérgio, da forma que só ele sabia fazer ao falar da vida real, do cotidiano, fez mais uma das suas geniais canções, que como muitas outras retrata sentimentos da vida de todos. "Polícia, bandido, cachorro, dentista foi composta, segundo Rodrigo Moreira a partir do pavor que Sérgio tinha de dentista. Na música ele enumerava esse e outros medos( e aversões) e os fazia interagir. Com sacadas geniais como estas : " Porque dentista policia minha boca como se fosse bandido(...) e "Porque bandido age sempre às escuras como se fosse cachorro/ Porque cachorro não distingue o inimigo como se fosse polícia/Porque polícia bandideia minha boca como se fosse dentista"
A inclusão da Polícia em um de seus medos não é estranho, principalmente pelo que significava naquele período de repressão, o que, mesmo hoje, em plena "democracia", a polícia continua ainda com sua lógica de terror, principalmente em relação ao povo pobre. Sobre esse medo de Sérgio em relação a polícia Moreira diz " Essa bronca de polícia era antiga, vinha do tempo da ditadura. Em Piúna(ES), fins de 70, Sérgio interrompeu uma canja numa roda de violões ao descobrir que havia um policial à paisana no meio. Levantou-se dizendo: "Não toco pra polícia".( Moreira, R.(2003) Eu quero Botar meu bloco na rua!, p. 164)
A canção ficou inédita, já gravada por Sérgio, vai compor o repertório do CD póstumo "Cruel" produzido por Zeca Baleiro.
Escute e delicie-se com mais essa genial composição de Sampaio:
Eu tenho medo de polícia, de bandido, de cachorro e de dentista Porque polícia quando chega vai batendo em quem não tem nada com isso Porque bandido quase sempre quando atira não acerta no que mira Porque cachorro quando ataca pode às vezes atacar o seu amigo Porque dentista policia minha boca como se fosse bandido Porque bandido age sempre às escuras como se fosse cachorro Porque cachorro não distingue o inimigo como se fosse polícia Porque polícia bandideia minha boca como se fosse dentista Dentista, dentista...
"Sei que minha música não é dançável, mas isso não me preocupa. O que
procuro fazer é um trabalho verdadeiro, sem subterfúgios, que enfoque
nossa problemática social e cultural"
"Um trabalhador braçal" , assim Sérgio Sampaio se auto-identificava nesta reportagem da revista POP, publicada em junho de 1977(outra relíquia enviada pelo amigo Alipio). A matéria intitulada " O operário do samba", sem assinatura, destaca um pouco o período em que vivia Sérgio Sampaio e o lançamento do seu compacto simples com as músicas "Ninguém Vive por Mim" e "História de Um Boêmio", essa última uma homenagem à Nelson Gonçalves, ídolo de Sérgio.
Abaixo transcrevemos a matéria na íntegra:
O operário do samba
"Sérgio Sampaio não chega a ser um ídolo, nem tem a preocupação de forjar qualquer imagem como cantor ou compositor. Na verdade Sérgio se considera apenas um "trabalhador". Um trabalhador braçal como outro qualquer, que vive de seu ofício e de seu suor. Dentro deste esquema vai levando adiante suas propostas, procurando ser ouvido e entendido: "Sei que minha música não é dançável, mas isso não me preocupa. O que procuro fazer é um trabalho verdadeiro, sem subterfúgios, que enfoque nossa problemática social e cultural. Um trabalho urbano, enfim. Essa é minha música". Sérgio Sampaio andou muito sumido por uns tempos, mas desde seu LP Tem que Acontecer, lançado em agosto do ano passado, tem procurado desenvolver maior regularidade a seu trabalho. Surge agora com um compacto simples que traz duas músicas de sua autoria: Ninguém Vive Por Mim e História de Um Boêmio. Estas duas músicas farão parte do novo LP de Sérgio Sampaio que tem seu lançamento marcado para setembro. Apesar do esquema de trabalho cada vez mais difícil para o artista, Sérgio acha que tem alguma coisa para dizer e continua na briga. Como ele mesmo diz em Ninguém Vive Por Mim: "Fui posto de lado em tudo, marginal, enfim. Mas o pior dos temporais aduba o jardim" ( FOTO KAM)
Fui tratado como um louco, enganado feito um bobo
Devorado pelos lobos, derrotado sim Fui posto de lado e fui um marginal enfim O pior dos temporais aduba o jardim Como um rato de bueiro, como um gato de calçada Velho mendigo da rua, cão de butiquim Disse adeus e fui embora, nada é mais ruim O pior dos temporais aduba o jardim E eu, boêmio cantor da lua Doido que não se situa Fui procurar viver além de mim E eu, simples cantor solitário Entre malandros e otários Vivo o que sou, ninguém vive por mim Tudo tem seu preço exato, ninguém vai pagar barato Tudo tem seu peso certo, tudo tem seu fim Escapei da armadilha, agora estou aqui O pior dos temporais aduba o jardim Fui pro mato sem cachorro, numa de "ou mato ou morro" Enfrentei um osso duro, duro de roer Escapei dessa quadrilha, agora estou aqui O pior dos temporais aduba o jardim"
O edifício Joelma, localizado na cidade de São Paulo, atualmente denominado edifício Praça da Bandeira,tornou-se conhecido nacional e internacionalmente quando, em 1 de fevereiro de 1974, um incêndio provocou a morte de 187 pessoa. Sérgio na ocasião, compôs uma canção( ainda inédita) chamada "Última esperança".
Como toda obra de Sérgio, os fatos da realidade servem para composições que falam muito mais do que o fato em si que lhe deram origem. Os versos originais dizem "Você que está em casa, um conselho vou dar, abra a janela, arrebente o portão... Quando num dado momento, sem ninguém esperar o fogo pode pegar..." Não podemos esquecer o contexto em que Sérgio estava, era o ano de 1974, período mais duro da censura e da represssão da ditadura militar. Mandar as pessoas "arrebentar o portão", porque o "fogo poderia pegar", serve muito bem como metáfora para o período. A última esperança é o vôo... a esperança de voar...
Última esperança ( Sérgio Sampaio)
"Você que está em casa um conselho vou dar Abra a janela, arrebente o portão Quando num dado momento sem ninguém esperar o fogo pode pegar... Nem bombeiro pode apagar... e é proibido fumar Você tá cego, você tá doido, Última esperança Ultima esperança Esperança de voar...
"Escute, meu chapa: um poeta não se faz
com versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é
inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos
maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela (…). Quem não
se arrisca não pode berrar."(Torquato Neto)
Neste ano de lançamentos de documentários
sobre a Tropicália e filmes como "Na estrada" , baseado na obra cult do Beat Jack Kerouac, o tema da "contracultura"
volta a pauta, o que nos permite resgatar um período
que parece ter ficado no passado( a juventude atual que o diga) e discutir o que significou a contracultura, como um movimento político-cultural que não só marcou uma época como deixou um legado que merece ser discutido/pensado pela geração de hoje.
Nesse sentido, que resgataremos neste post a história e o legado de um dos
maiores ícones daquele período de emergência da contracultura no Brasil: o poeta piauiense
Torquato Neto, que foi um dos mais atuantes produtores da poesia e da cultura chamada "marginal" dos anos 70. No mês de novembro deste ano completará 40 anos de seu precoce falecimento.
"Um artista que viveu pouco, mas viveu intensamente...
Alguns estudiosos desse período apontam Torquato Neto como um dos mais
representativos representantes das várias tendências da época, por
muitos considerado o verdadeiro fundador deste estilo vanguardista da
contracultura.
Torquato Neto teve uma morte
trágica, suicidou-se aos 28 anos de idade no dia de seu aniversário
em novembro de 1972. Ha 40 anos morria o "Anjo Torto do
tropicalismo" o "poeta maldito" "agitador
da contracultur". Ele não foi somente um grande ícone dos anos
60, mas sobretudo um dos cabeças do movimento tropicalista.
Como bem definiu o escritor José Castello "Com uma vida breve, mas fecunda, Torquato Neto é uma síntese da grandeza, mas
também dos abismos que definem a cultura alternativa e rebelde dos anos
60 e 70 (...) A sua rebeldia figurava também
em sua aparência. Seus cabelos compridos e roupas ao estilo hippie o
configurava como um homem que recusava o mundo que vivia. “Ele tinha a
vontade de destruir o mundo para, nesse mesmo gesto, fazer o parto de um
novo”, acrescenta Castello.
Documentário curta metragem sobre Torquato Neto, realizado em 2010
Torquato Neto era filho de um defensor público
(Heli da Rocha Nunes) e de uma professora primária de Teresina
(Maria Salomé Nunes). Mudou-se para Salvador aos 16 anos para os
estudos secundários, onde foi contemporâneo de Gilberto Gil no
Colégio Nossa Senhora da Vitória e trabalhou como assistente no
filme Barravento de Glauber Rocha.
Torquato envolveu-se ativamente na cena cultural
da capital baiana, onde conheceu, além de Gil,Caetano Veloso, Gal
Costa e Maria Bethania. Em 1962, mudou-se para o Rio de Janeiro para
estudar jornalismo na universidade, mas nunca chegou a se formar.
Trabalhou para diversos veículos da imprensa carioca, com colunas
sobre cultura no Correio da Manhã,Jornal dos Esportes e Última
Hora.
Torquato, Caetano e Capinam
Torquato atuava como um agente cultural e polemista defensor
das manifestações artísticas de vanguarda, como a Tropicália, o
Cinema Marginal e a Poesia Concreta, circulando no meio cultural
efervescente da época, ao lado de amigos como os poetas Décio
Pignatari,Augusto e Haroldo de Campos, o cineasta Ivan Cardoso e o
artista plástico Hélio Oiticica. Nesta época, Torquato passou a
ser visto como um dos participantes do Tropicalismo, tendo escrito o
breviário "Tropicalismo para principiantes", onde
defendeu a necessidade de criar um "pop" genuinamente
brasileiro:
"Assumir completamente tudo que a vida dos
trópicos pode dar, sem preconceitos de ordem estética, sem cogitar
de cafonice ou mau gosto, apenas vivendo a tropicalidade e o novo
universo que ela encerra, ainda desconhecido". Torquato
também foi um importante letrista de canções icônicas do
movimento tropicalista.
Foto da histórica passeata dos 100 mil realizada no Rio de Janeiro em junho de 1968 que reuniu vários artistas e intelectuais em protesto contra a ditadura( em dezembro do mesmo ano o regime se fecharia ainda mais com a decretação do AI-5). No primeiro plano, aparece Torquato Neto e ao seu lado estão Gilberto Gil e Nana Caymmi.
No final da década de 1960, com o AI-5 e o exílio
dos amigos e parceiros Gil e Caetano, viajou pela Europa e Estados
Unidos com a mulher Ana Maria e morou em Londres por um breve
período. De volta ao Brasil, no início dos anos 70, Torquato
começou a se isolar, sentindo-se alienado tanto pelo regime militar
quanto pela "patrulha ideológica" da esquerda ortodoxa. Passou por uma série de internações para tratar do
alcoolismo, e rompeu diversas amizades. Em julho de 1971, escreveu a
Hélio Oiticica:
"O chato, Hélio, aqui, é que ninguém mais
tem opinião sobre coisa alguma. Todo mundo virou uma espécie de
Capinam (esse é o único de quem eu não gosto mesmo: é
muito burro e mesquinho), e o que eu chamo de conformismo geral é
isso mesmo, a burrice, a queimação de fumo o dia inteiro, como se
isso fosse curtição, aqui é escapismo, vanguardismo de Capinam que
é o geral, enfim, poesia sem poesia, papo furado, ninguém está em
jogo, uma droga. Tudo parado, odeio."
O "Blogueiro dos anos 70"
Poderíamos dizer que Torquato Neto foi uma
espécie de "blogueiro dos anos 70". Escrevia a coluna
“Geléia Geral” no jornal Última Hora, onde cobria a vida
cultural brasileira (especialmente do Rio), com foco na música, no
cinema e num pouco de literatura. Todos que liam sua coluna podiam
acompanhar dia após dia, na sua “Geléia Geral”, a história da
música brasileira (e mundial) nos ricos anos 71 e 72. Torquato,
saudosista, reclamava que a MPB estava muito parada. Para quem lê
essa definição da música brasileira hoje parece uma ironia. Eram
os anos de “Fa-Tal” de Gal Costa (Com “Vapor Barato” e
“Pérola Negra”), “Transa” o (disco em inglês) cult do
Caetano, “Construção” do Chico Buarque (com a faixa título
mais “Cotidiano”, “Deus lhe pague”, “Valsinha” e meia
dúzia de clássicos) e o discão do rei Roberto Carlos que trazia
“Detalhes”, “Debaixo dos Caracói dos seus cabelos” e “Como
dois e dois”. Lá fora, John Lennon estava de música nova:
Imagine. E Torquato avisava seus leitores para se ligar em uma banda
inglesa que estava amadurecendo bem: o Pink Floyd (Ainda dois anos
distante de lançar seu mega-sucesso “The Dark Side of the Moon”).
E os Novos Baianos começavam a se tornar íntimos de João Gilberto(influência que daria origem ao clássico “Acabou Chorare”).
Comparando com o que temos hoje na "cena cultural" brasileira é possível dimensionar o tamanho do "deserto criativo" que estamos atravessando....
No cinema, Torquato era do time dos “undigrudis”:
Ivan Cardoso,Rogério Sganzerla e, claro, Zé do Caixão. Descia a
lenha no cinema novo, de Cacá Diegues e Arnaldo Jabor, que passaram a
ser patrocinados por recursos federais(lembrem-se que viviamos o ínicio da longa noite de 25 anos de ditadura militar). Só poupava Glauber Rocha das
críticas. E se empolgava com a tecnologia das câmeras Super 8. Torquato, um visionário, 40
anos antes de Youtube e das filmadoras digitais já previa: todo
mundo vai ser cineasta.
Torquato Neto como o "Nosferatu brasileiro"
Sobre o legado da vida e a obra de Torquato Neto destacamos o livro “Os últimos dias de paupéria” (organizado
por Wally Salomão e Ana Maria Silva de Araújo Duarte) que foi publicado
postumamente. Torquato estava preparando um livro (que devia
chamar-se “Do lado de dentro”) quando se suicidou com gás de
cozinha no dia do seu aniversário de 28 anos. Morreu sem publicar
nenhum livro em vida. Deixou suas crônicas musicais, suas letras
(“Geléia Geral” e “Louvação” com Gil, mais uma dezena com
Caetano, Jards Macalé, Edu Lobo e a parceria póstuma de “Go Back”
com os Titãs), algumas cartas (numa das quais conta como fumou
haxixe com JIMI HENDRIX) e poesias – era poeta tropicalista, amigos
dos concretistas e admirador da poesia marginal de Chacal, então
estreante. Sua
empolgação com música-cinema-literatura não o segurou na vida,
deprimido com a falta de liberdade da ditadura e a falta de bom gosto
da esquerda. Nasceu no tempo errado.
Torquato se matou um dia depois de seu 28º
aniversário, em 1972. Depois de voltar de uma festa, trancou-se no
banheiro e abriu o gás. Sua mulher dormia em outro aposento da casa.
O escritor foi encontrado na manhã seguinte pela empregada da
família.
Sua nota suicida dizia:
"Tenho saudade, como os cariocas, do dia
em que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico
sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Pra mim, chega! Não
sacudam demais o Thiago, que ele pode acordar". Thiago era o
filho de dois anos de idade.
Na época da morte de Torquato, Caetano que era
seu grande amigo e admirador, encontrava se ensaiando com Chico
Buarque o disco, que seria um marco da música chamado Chico e
Caetano ao vivo no teatro Castro Alves. Caetano dissera após a
morte, que na época da tragédia não conseguiu entender direito por
estar muito concentrado no evento ( não entendeu de fato a perda) e
que, inclusive, Chcio teria sentido muito mais no momento.
Passado
algum tempo, Caetano passa em turnê por Teresina. O pai de
Torquato Neto, sabendo da sua grande amizade que seu filho tinha com
Caetano resolveu ir visitar o artista no hotel e os dois rumaram para
a casa do Pai de torquato. Ao chegar na casa, Caetano entrou em
prantos e afirmou que, naquele momento, teria entendido a perda do
amigo.
O Pai de Torquato não falava nada, enquanto Caetano
chorava e via algumas fotos antigas. Então, ele como cortesia serviu
uma Cajuína, bebida típica e deliciosa da cidade de
Teresina, e trouxe do seu quintal um pé de Rosa Pequena para
Caetano.
Ao voltar ao hotel, Caetano havia composto uma linda
homenagem ao seu grande amigo. Amúsica "Cajuína" não é
somente uma música, ela é uma poesia-homenagem , uma cancão de
despedida e à Torquato Neto. Essa história Caetano contou em um programa de TV.
"Existirmos: a que será
que se destina? Pois quando tu me deste a rosa pequenina Vi que
és um homem lindo e que se acaso a sina Do menino infeliz não se
nos ilumina Tampouco turva-se a lágrima nordestina Apenas a
matéria vida era tão fina E éramos olharmo-nos intacta retina A
cajuína cristalina em Teresina"
Lembrar de Torquato é também uma justa homenagem
a este agitador da contracultura, "louco visionário", que
é parte de uma geração de "gênios malditos" como
Raul Seixas, Tom Zé, Jards Macalé, Luiz Melodia e Sérgio Sampaio.
Da amizade de Sérgio Sampaio e Torquato Neto que foi composta uma das belas canções de Sampaio; a música "Que Loucura", gravada no seu segundo LP
"Tem que acontecer" de 1976 é uma homenagem a Torquato
No livro biografia de Sérgio Sampaio " Eu
quero é botar o meu bloco na rua" , Rodrigo Moreira conta a
origem da música :
" (...) O legendário "anjo torto"
costumava relatar a Sérgio seus entra-e-sai de manicômios, quando
fazia amizade com diretores, médicos e pacientes. Retornando sempre
que desejava, Torquato encontrava seu quarto "reservado",
com máquina de escrever e tudo o mais à sua disposição. Inspirado
nas histórias, Sampaio compôs uma canção, gravada somente quatro
anos depois, em homenagem a esse quixotesco personagem, que
reverenciava. Na verdade, Torquato havia lhe entregado certa vez uma
letra, dizendo: "Fiz um negócio pra você musicar". Sérgio
leu e respondeu: "Pô, mas isso aqui não dá música".
Torquato então lhe disse: "Faça assim mesmo, só pra nós
dois(...)"(Moreira, 2003, p.76)
Que Loucura ( Sérgio Sampaio)
Fui internado ontem Na cabine cento e
três Do hospício do Engenho de Dentro Só comigo tinham dez
Estou doente do peito Eu tô doente do
coração A minha cama já virou leito Disseram que eu perdi a
razão
Tô maluco da idéia Guiando carro na
contramão Saí do palco e fui pra platéia Saí da sala e fui
pro porão...
Neste video Sérgio conta essa história sobre "Que loucura"
Os poemas-musicados de Torquato são cantados até
hoje, vale lembrar a gravação pelos Titãs de Go Back ,
grande sucesso do grupo que deu título ao primeiro álbum ao vivo da banda. A poesia concreta de Torquato é uma das influências do cantor e compositor Arnaldo Antunes.
Go Back ( Torquato Neto )
Você me chama Eu quero ir pro cinema Você
reclama Meu coração não contenta Você me ama Mas de
repente A madrugada mudou E certamente Aquele trem já
passou Se passou, passou Daqui pra melhor Foi!
Só quero saber Do que pode dar certo Não
tenho tempo a perder Só quero saber Do que pode dar
certo Não tenho tempo a perder...(2x)
Você me chama Eu quero ir pro cinema Você
reclama Meu coração não contenta Você me ama Mas de
repente A madrugada mudou E certamente Aquele trem já
passou Se passou, passou Daqui pra melhor Foi!
Só quero saber Do que pode dar certo Não
tenho tempo a perder Só quero saber Do que pode dar
certo Não tenho tempo a perder...(2x)
-"Não é o meu país É uma sombra
que pende Concreta Do meu nariz em linha reta Não
é minha cidade É um sistema que invento Me transforma E
que acrescento À minha idade Nem é o nosso amor É a
memória que suja A história que enferruja O que passou Não
é você Nem sou mais eu Adeus meu bem Adeus! Adeus! Você
mudou, mudei também Adeus amor! Adeus! E vem!"
Só quero saber Do que pode dar certo Não
tenho tempo a perder Só quero saber Do que pode dar
certo Não tenho tempo a perder...(2x)
Letrista de grandes sucessos com vários parceiros
Torquato foi autor de sucessos como "Pra dizer adeus" com
Edu Lobo e gravado por Maria Bethania, " Geléia Geral",
"Louvação" e "Marginália II" "Soy Loco
por ti América" ( Homenagem à Che Guevara que havia sido
assasinado naquele ano de 1967) com Gil e gravada por ele.
Eu, brasileiro, confesso Minha culpa, meu degredo Pão seco de cada dia Tropical melancolia Negra solidão
Aqui é o fim do mundo Aqui é o fim do mundo Aqui é o fim do mundo
Aqui, o Terceiro Mundo Pede a bênção e vai dormir Entre cascatas, palmeiras Araçás e bananeiras Ao canto da juriti
Aqui, meu pânico e glória Aqui, meu laço e cadeia Conheço bem minha história Começa na lua cheia E termina antes do fim
Aqui é o fim do mundo Aqui é o fim do mundo Aqui é o fim do mundo
Minha terra tem palmeiras Onde sopra o vento forte Da fome, do medo e muito Principalmente da morte Olelê, lalá
A bomba explode lá fora E agora, o que vou temer? Oh, yes, nós temos banana Até pra dar e vender Olelê, lalá
Aqui é o fim do mundo Aqui é o fim do mundo Aqui é o fim do mundo
Em 1992, outro grande amigo de Torquato Neto, o
cineasta Ivan Cardoso, produziu e apresentou um programa especial
sobre o poeta no programa Documento Especial. Postamos aqui
este programa histórico com diversos depoimentos dos amigos e admiradores
deste grande poeta maldito.
Torquato Netopor ele mesmo em sua poesia Cogito:
Cogito
eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.
Jards Macalé e o ator Paulo José em homenagem à Torquato Neto
A obra de Torquato Neto
Composições * A coisa mais linda que existe (com Gilberto Gil)
* A rua (com Gilberto Gil)
* Ai de mim, Copacabana (com Caetano Veloso)
* Andarandei (com Renato Piau)
* Cantiga (com Gilberto Gil)
* Capitão Lampião (com Caetano Veloso)
* Coisa mais linda que existe (com Gilberto Gil)
* Começar pelo recomeço (com Luiz Melodia)
* Daqui pra lá, de lá pra cá
* Dente por dente (com Jards Macalé)
* Destino (com Jards Macalé)
* Deus vos salve a casa santa (com Caetano Veloso)
* Domingou (com Gilberto Gil)
* Fique sabendo (com João Bosco e Chico Enói)
* Geléia geral (com Gilberto Gil)
* Go back (com Sérgio Britto, dos Titãs)
* Juliana (com Caetano Veloso)
* Let’s play that (com Jards Macalé)
* Lost in the paradise (com Caetano Veloso)
* Louvação (com Gilberto Gil)
* Lua nova (com Edu Lobo)
* Mamãe coragem (com Caetano Veloso)
* Marginália II (com Gilberto Gil)
* Meu choro pra você (com Gilberto Gil)
* Minha Senhora (com Gilberto Gil)
* Nenhuma dor (com Caetano Veloso)
* O bem, o mal (com Sérgio Britto, Titãs)
* O homem que deve morrer (com Nonato Buzar)
* O nome do mistério (com Geraldo Azevedo)
* Pra dizer adeus (com Edu Lobo)
* Quase adeus (com Nonato Buzar e Carlos Monteiro de Sousa)
* Que película (com Nonato Buzar)
* Que tal (com Luís Melodia)
* Rancho da boa-vinda (com Gilberto Gil)
* Rancho da rosa encarnada (com Gilberto Gil e Geraldo Vandré)
* Todo dia é dia D (com Carlos Pinto)
* Três da madrugada (com Carlos Pinto)
* Tudo muito azul (com Roberto Menescal)
* Um dia desses eu me caso com você (com Paulo Diniz)
* Veleiro (com [[Edu Lobo)
* Vem menina (com Gilberto Gil)
* Venho de longe (com Gilberto Gil)
* Vento de maio (com Gilberto Gil)
* Zabelê (com Gilberto Gil)
Discografia * Tropicália ou panis et circensis (1968) – Philips LP
* Os últimos dias de Paupéria (1973) – Eldorado Editora Compacto simples
* Torquato Neto – Um poeta desfolha a bandeira e a manhã tropical se
inicia (1985) – RioArte/Prefeitura do Rio de Janeiro e Governo do Estado
do Piauí LP
* Todo dia é dia D (2002) – Dubas Música CD
Bibliografia Torquato Neto. Os Últimos Dias de Paupéria. (Org. Ana Maria Silva Duarte e Waly Salomão), Rio de Janeiro: Max Limonad, 1984.
Torquato Neto. Torquatália – do Lado de Dentro: Obra Reunida de Torquato
Neto (vol. 1). (Org. Paulo Roberto Pires). Rio de Janeiro: Editora
Rocco, 2005.
Torquato Neto. Torquatália – Geléia Geral: Obra Reunida de Torquato Neto
(vol. 2). (Org. Paulo Roberto Pires). Rio de Janeiro: Editora Rocco,
2005.
Pra mim Chega - A Biografia de Torquato Neto de Toninho Vaz, que também já biografou o poeta
Paulo Leminski.
Filmografia Como ator * Nosferatu, de Ivan Cardoso. Como protagonista, “Vampiro” (1970). Referências * Torquato Neto. – Verbete sobre o escritor no Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.
* Toninho Vaz. Pra Mim Chega: a Biografia de Torquato. São Paulo: Casa Amarela, 2005.
* Paulo Henriques Brito. Torquato Neto. Centro de Cultura Alternativa/
Rio Arte / Projeto Torquato Neto/ Secretaria de Cultura, Desportos e
Turismo do Piauí, 1985.
Encerramos nossa homenagem com uma das mais belas poesias-canções de Torquato Neto, interpretada com maestria por Gilberto Gil: Todo dia é dia D