quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Ninguém vive por mim

A vida e o homem Sérgio Sampaio pode ser identificado pelas letras de suas canções. O que escrevia não dizia respeito apenas ao que ele via, vivia, acreditava e sonhava, mas ao que ele era. De todas as músicas a mais autobiográfica talvez seja "Ninguém vive por mim".

Nesta canção escrita na primeira pessoa, Sérgio descreve, como que fazendo coro e mesmo admitindo os rótulos que lhe colocaram que é sim o "boêmio cantor da lua", o "doido que não se situa", ou mesmo o "simples cantor solitário". Fala também como era visto "fui tratado como um louco, enganado feito bobo", impossível não relacionar este trecho a uma acida crítica à industrial cultural, também quando diz que foi "devorado pelos lobos, derrotado sim, posto de lado, um marginal enfim", ou seja, descreve clara e objetivamente o que falavam dele.

Se auto-denomina "rato de bueiro, gato de calçada, mendigo de rua, cão de butiquim", que "disse adeus e foi embora". Mas o poeta está além disso, estes tempos ruins, de temporais, acabam "adubando o seu jardim", possibilita "viver além de mim", encontrar "malandros e otários", mas o que importa, vai viver o que é, pois "ninguém vive por mim".

Por fim diz que enfrentou um "osso duro", "enfrentou a quadrilha" e hoje está aqui. É Sérgio Sampaio por inteiro, jogando na cara dos hipócritas, da industria e do sistema moedor de seres humanos, que os temporais, por pior que sejam, estarão sim, adubando o seu jardim. Jardim que fez brotar canções que permanecem como obras primas do cantor solitário e genial que foi Sérgio Sampaio.

Ninguém vive por mim 

Fui tratado como um louco, enganado feito um bobo 
Devorado pelos lobos, derrotado sim 
Fui posto de lado e fui um marginal enfim 
O pior dos temporais aduba o jardim 
Como um rato de bueiro, como um gato de calçada 
Velho mendigo da rua, cão de butiquim 
Disse adeus e fui embora, nada é mais ruim 
O pior dos temporais aduba o jardim 
E eu, boêmio cantor da lua 
Doido que não se situa 
Fui procurar viver além de mim 
E eu, simples cantor solitário 
Entre malandros e otários 
Vivo o que sou, ninguém vive por mim 
Tudo tem seu preço exato, ninguém vai pagar barato 
Tudo tem seu peso certo, tudo tem seu fim 
Escapei da armadilha, agora estou aqui 
O pior dos temporais aduba o jardim 
Fui pro mato sem cachorro, numa de "ou mato ou morro" 
Enfrentei um osso duro, duro de roer 
Escapei dessa quadrilha, agora estou aqui 
O pior dos temporais aduba o jardim 


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