A vida e o homem Sérgio Sampaio pode ser identificado pelas letras de suas canções. O que escrevia não dizia respeito apenas ao que ele via, vivia, acreditava e sonhava, mas ao que ele era. De todas as músicas a mais autobiográfica talvez seja "Ninguém vive por mim".
Nesta canção escrita na primeira pessoa, Sérgio descreve, como que fazendo coro e mesmo admitindo os rótulos que lhe colocaram que é sim o "boêmio cantor da lua", o "doido que não se situa", ou mesmo o "simples cantor solitário". Fala também como era visto "fui tratado como um louco, enganado feito bobo", impossível não relacionar este trecho a uma acida crítica à industrial cultural, também quando diz que foi "devorado pelos lobos, derrotado sim, posto de lado, um marginal enfim", ou seja, descreve clara e objetivamente o que falavam dele.
Se auto-denomina "rato de bueiro, gato de calçada, mendigo de rua, cão de butiquim", que "disse adeus e foi embora". Mas o poeta está além disso, estes tempos ruins, de temporais, acabam "adubando o seu jardim", possibilita "viver além de mim", encontrar "malandros e otários", mas o que importa, vai viver o que é, pois "ninguém vive por mim".
Por fim diz que enfrentou um "osso duro", "enfrentou a quadrilha" e hoje está aqui. É Sérgio Sampaio por inteiro, jogando na cara dos hipócritas, da industria e do sistema moedor de seres humanos, que os temporais, por pior que sejam, estarão sim, adubando o seu jardim. Jardim que fez brotar canções que permanecem como obras primas do cantor solitário e genial que foi Sérgio Sampaio.
Ninguém vive por mim
Fui tratado como um louco, enganado feito um bobo
Devorado pelos lobos, derrotado sim
Fui posto de lado e fui um marginal enfim
O pior dos temporais aduba o jardim
Como um rato de bueiro, como um gato de calçada
Velho mendigo da rua, cão de butiquim
Disse adeus e fui embora, nada é mais ruim
O pior dos temporais aduba o jardim
E eu, boêmio cantor da lua
Doido que não se situa
Fui procurar viver além de mim
E eu, simples cantor solitário
Entre malandros e otários
Vivo o que sou, ninguém vive por mim
Tudo tem seu preço exato, ninguém vai pagar barato
Tudo tem seu peso certo, tudo tem seu fim
Escapei da armadilha, agora estou aqui
O pior dos temporais aduba o jardim
Fui pro mato sem cachorro, numa de "ou mato ou morro"
Enfrentei um osso duro, duro de roer
Escapei dessa quadrilha, agora estou aqui
O pior dos temporais aduba o jardim
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