terça-feira, 9 de outubro de 2012

O operário do samba


 "Sei que minha música não é dançável, mas isso não me preocupa. O que procuro fazer é um trabalho verdadeiro, sem subterfúgios, que enfoque nossa problemática social e cultural"


"Um trabalhador braçal" , assim Sérgio Sampaio se auto-identificava nesta reportagem da revista POP, publicada em junho de 1977(outra relíquia enviada pelo amigo Alipio). A matéria intitulada " O operário do samba", sem assinatura, destaca  um pouco o período em que vivia Sérgio Sampaio e o  lançamento do seu compacto simples com as músicas "Ninguém Vive por Mim" e "História de Um Boêmio", essa última uma homenagem à Nelson Gonçalves, ídolo de Sérgio. 

Abaixo transcrevemos a matéria na íntegra:

O operário do samba

"Sérgio Sampaio não chega a ser um ídolo, nem tem a preocupação de forjar qualquer imagem como cantor ou compositor. Na verdade Sérgio se considera apenas um "trabalhador". Um trabalhador braçal como outro qualquer, que vive de seu ofício e de seu suor. Dentro deste esquema vai levando adiante suas propostas, procurando ser ouvido e entendido: "Sei que minha música não é dançável, mas isso não me preocupa. O que procuro fazer é um trabalho verdadeiro, sem subterfúgios, que enfoque nossa problemática social e cultural. Um trabalho urbano, enfim. Essa é minha música". Sérgio Sampaio andou muito sumido por uns tempos, mas desde seu LP Tem que Acontecer, lançado em agosto do ano passado, tem procurado desenvolver maior regularidade a seu trabalho. Surge agora com um compacto simples que traz duas músicas de sua autoria: Ninguém Vive Por Mim e História de Um Boêmio. Estas duas músicas farão parte do novo LP de Sérgio Sampaio que tem seu lançamento marcado para setembro. Apesar do esquema de trabalho cada vez mais difícil para o artista, Sérgio acha que tem alguma coisa para dizer e continua na briga. Como ele mesmo diz em Ninguém Vive Por Mim: "Fui posto de lado em tudo, marginal, enfim. Mas o pior dos temporais aduba o jardim" ( FOTO KAM)






Fui tratado como um louco, enganado feito um bobo
Devorado pelos lobos, derrotado sim
Fui posto de lado e fui um marginal enfim
O pior dos temporais aduba o jardim
Como um rato de bueiro, como um gato de calçada
Velho mendigo da rua, cão de butiquim
Disse adeus e fui embora, nada é mais ruim
O pior dos temporais aduba o jardim
E eu, boêmio cantor da lua
Doido que não se situa
Fui procurar viver além de mim
E eu, simples cantor solitário
Entre malandros e otários
Vivo o que sou, ninguém vive por mim
Tudo tem seu preço exato, ninguém vai pagar barato
Tudo tem seu peso certo, tudo tem seu fim
Escapei da armadilha, agora estou aqui
O pior dos temporais aduba o jardim
Fui pro mato sem cachorro, numa de "ou mato ou morro"
Enfrentei um osso duro, duro de roer
Escapei dessa quadrilha, agora estou aqui
O pior dos temporais aduba o jardim"

 

Um comentário:

  1. Sempre curti o Sérgio Sampaio,
    é muito bom vir ver por aqui
    que cabeças ainda pensam.

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